sábado, maio 23, 2009

Na América...



Quando pensamos na cultura dos EUA, o que nos vem à cabeça são… armas, 11 de Setembro, McDonald`s, Obama (vamos ignorar o Bush), dólar… e mais mil e uma coisas que temos como familiares. O facto curioso é o grande desconhecimento que temos relativamente ao país que se intitula de “dono do mundo”, mais concretamente ao fanatismo religioso que é vivido em algumas partes deste.
Apesar da enorme difusão de informação por parte dos média, que nos faz acreditar que na “aldeia global” que é o mundo de hoje todos os que têm acesso à tecnologia têm tendência a tornar-se semelhantes, a verdade é que apesar das evidentes semelhanças que cada vez são maiores, há diferenças que ainda nos chocam. Podemos tomar por exemplo o extremismo dos grupos católicos, que por todo o país se manifestaram contra o ensino da Teoria da Evolução, de Darwin (que todos nós damos na escola). E não só se manifestam, como em grande parte das escolas, a “Origem das espécies” foi banida dos programas de ciências, para tomar o seu lugar o Criacionismo, há mesmo escolas católicas em que o Dilúvio aparece como facto nos livros de ciências, e em que o aborto aparece descrito como um castigo de Deus. Quando num lugar em que se devia encorajar a pensar é feito o contrario, algo de muito errado se passa. É estranho o ponto a que chegam as acções das pessoas, acções que resultam apenas do medo de confrontarem a “sua realidade” com a realidade do mundo, com a verdade duma teoria que se apoia em factos, em provas cientificamente fundadas, e optam simplesmente por não pensar. Não vou falar do facto das novas igrejas nos EUA serem completos centros comerciais, o que é uma realidade que podemos até encarar como algo positivo, mas sim de algo mais estranho que se está a espalhar por todos os Estados, que são as chamadas “Hell House”, locais que se assemelham a teatros, em que actores (pertencentes ao grupo de fundamentalistas cristãos) representam numa encenação o Inferno, abordando temas como a homossexualidade, o aborto, o uso de preservativo entre outros, que segundo eles condenam a nossa alma ao Inferno. É uma casa dos horrores, onde se parece celebrar o dia das bruxas fora de época, que tem por objectivo incutir medo nas pessoas (inclusive em crianças), de modo a veicular comportamentos que dizem fundar-se nas escrituras. Mesmo ignorando o facto da transmissão de princípios morais se assentar no medo, não podemos ignorar que estes ensinamentos em crianças vão originar adultos com atitudes discriminatórias, e violentas… (um bocadinho diferente do “Deus é amor!”, que nos ensinam na catequese). Os EUA são o berço da familiar Coca-cola, mas também de convicções que nos são muito estranhas.

1 comentário:

Filipe Ramos disse...

Ainda hoje se vêm atitudes que nos deixam perplexos. Ainda há uns dias vi uma notícia sobre uma mãe (nos EUA), que foi condenada por homicídio involuntário em segundo grau (é a tradução directa, não sei como se designa no nosso país). A razão para tal foi o facto de ter deixado a filha morrer de diabetes, não a levando ao hospital durante nenhum dos dias em que ela esteve doente, mesmo com o agravamento dos sintomas, que a deixaram praticamente sem poder falar ou mexer. Mas será que essa mãe não amava a sua filha? Claro que sim. Como qualquer mãe, ela amava a sua filha mais do que tudo. Mas maior do que o amor pela filha era a crença em deus, e por isso ela não achou que precisasse de médicos, quando podia rezar durante todo o dia à espera que o seu deus omnipotente finalmente a ouvisse. Foi isso que fez, de plena consciência. Fez bem? Não? Devemos culpar a mãe? Se calhar o facto de ela ter visto uma "Hell House" aos 12 anos (e não sei realmente se viu), e de ter, por causa disso, pesadelos horríveis com criaturas infernais e sofrimento sem limites, a tenha levado a optar por uma atitude que ninguém que acredite em deus pode sem hipocrisia censurar. Se acredito em deus, e no poder da oração, se acredito que a deus tudo é possível, e que é um ser bondoso, então a melhor atitude a fazer é rezar, e pedir-lhe que cure a nossa filha, pois a vontade dele é soberana, e é a ele que temos de convencer. Se ele não quiser que ela sobreviva, nenhum tratamento médico a irá salvar. Se ela morrer, então é porque foi melhor assim, deus sabe o que faz. Ela deve estar num lugar melhor agora.

Se um dia eu ficar tão doente que não consiga falar, ou que não tenha discernimento para fazer decisões, por favor, levem-me aos melhores médicos que conseguirem. Se quiserem ajudar, dêem apoio àqueles que estão a sofrer por mim (se existir alguém - acredito que sim), não percam tempo com rezas inúteis (cuja única função é fazer com que vocês se sintam melhor). Façam-no por mim.