terça-feira, abril 05, 2011

Livros queimados...

As pessoas que me conhecem sabem que não há muitas coisas que eu goste mais do que os meus livros. Escusado será dizer que nunca me passaria pela cabeça queimar qualquer um deles! O reverendo Terry Jones não é da mesma opinião: ele achou que tinha um bom motivo para queimar um dos seus livros.

O Alcorão é considerado sagrado para os islamitas, pois acreditam ser a palavra de Deus revelada a Maomé. Não gostam, portanto, de o ver a ser queimado, seja por que motivo for.

Temos então duas opiniões diferentes, o que pode (e deve) levar a discussões saudáveis (sobre o valor dos livros, sobre o poder da palavra escrita, sobre a possibilidade de grelhar um hambúrguer usando apenas livros como fonte de calor, etc.) O que nunca se deve perder de vista é a liberdade de cada um ter a sua opinião, e o direito de se desfazer dos seus bens da forma que lhe apetecer (desde que não entre em conflito com as liberdades dos outros.)

Em setembro último, Terry Jones ameaçou queimar um exemplar do Alcorão como protesto contra a construção de uma mesquita junto ao local onde se situavam as torres gémeas do World Trade Center, mas foi dissuadido de o fazer. Contou para isso um telefonema do Secretário da Defesa Robert Gates. Ele prometeu não queimar o livro, mas quebrou a sua promessa no dia 20 de março, querendo com isso chamar a atenção para o que ele diz ser um «livro perigoso».

Há já aqui alguns problemas. Primeiro, o fato de Terry Jones querer queimar um livro com o intuito de provocar outras pessoas não é algo que se deva elogiar, mas o real problema é o fato de ele saber que ao queimar o livro iria provocar reações violentas noutras pessoas. Isto é, o fato de alguém achar que deve reagir com violência quando um livro é maltratado. O outro problema, tão grave quanto o primeiro, é o fato de um governo de um país democrático e livre preferir que um dos seus cidadãos se abstenha de se expressar, a lutar para que ele tenha esse direito.

O ato de Terry Jones não foi muito publicitado pela imprensa internacional, mas Hamid Karzai achou que não devia cair em esquecimento, e exigiu que fosse denunciado pelo governo americano como «um ato de extrema intolerância e fanatismo». Como resultado uma multidão enraivecida atacou um edifício da ONU no Afeganistão. A revolta já levou à morte de 12 pessoas.

Não creio que seja preciso falar sobre o problema de matar pessoas por causa de um livro queimado.
Já o problema de um país ter como presidente alguém que se comporta como um Taliban, presidente esse do qual era esperado que alterasse o modelo governamental de um país anteriormente governado por talibans, é algo que não devemos esquecer.
Mais um para a lista negra!

1 comentário:

Jorge disse...

Vai-lhes explicar essa coisa dos direitos e tal...