domingo, abril 19, 2009

Mentes fechadas...

Quantas vezes já ouvi certas pessoas, que acreditam em coisas sobrenaturais e pseudocientíficas, dizer a outras, que não acreditam no mesmo, que deviam ter uma mente mais aberta. Ora, ter uma mente aberta é estar aberto a considerar novas ideias. O desenvolvimento da ciência e o avanço do nosso conhecimento sobre a realidade depende da nossa vontade em considerar novas ideias, por isso, todos aqueles que acreditam na ciência têm, por definição, uma mente aberta.


Quando alguém diz que determinado evento é sobrenatural, só porque não consegue arranjar uma explicação para o mesmo, está a eliminar prematuramente explicações alternativas, e isso sim, é ter uma mente fechada.

Muitas vezes, as pessoas que dizem acreditar no sobrenatural suportam essa afirmação numa qualquer experiência que não pode ser explicada. Essa aproximação é falaciosa. Essa argumentação só mostra que essa experiência não pode ser explicada. Implicar que o facto de algo não ter explicação é prova de poderes sobrenaturais é em si uma contradição: primeiro diz-se que algo não tem explicação, e depois dão-nos a explicação.

Para mais, dizer a alguém que tem de acreditar no sobrenatural, porque também ele não é capaz de explicar a nossa experiência inexplicável, não faz sentido, porque essa pessoa não tem acesso independente ao que aconteceu, nem pode investigar detalhes que possam ter ficado por descobrir, ou que tenham sido mal interpretados. Essa pessoa precisa de provas, que demonstrem que a experiência é válida.

O facto de alguém pedir por provas antes de aceitar que algo de facto aconteceu, não faz dele uma pessoa com mente fechada. Todos somos cépticos em relação a algo. O facto de eu dizer que não acredito em fantasmas, não me impede de alterar a minha opinião, se alguém me apresentar provas irrefutáveis de que os fantasmas existem. Dizer que não se acredita em algo é diferente de afirmar que algo não existe. Se eu afirmar, sem mostrar provas irrefutáveis, que os fantasmas não existem, estou a ter uma mente fechada, mas se afirmar que não acredito em fantasmas, estou simplesmente a dizer que não conheço provas irrefutáveis, nem definições testáveis, de que os fantasmas existam. Pelo contrário, se alguém afirmar que algo logicamente impossível aconteceu, então eu posso dizer que isso é impossível pelas razões A, B e C, e assim, se essa pessoa tiver uma mente aberta, ela vai mudar de opinião, ou procurar erros no meu raciocínio, mas se tiver uma mente fechada, vai-me dizer que eu não acredito nela porque tenho uma mente fechada...

O mais incrível acontece quando alguém acha que tem uma mente aberta porque acredita em testemunhos de pouca confiança de uma qualquer pessoa que lhes conte uma história intrigante e surrealista, e ao mesmo tempo diz que não acredita na ciência, e que os cientistas são presunçosos e acham que sabem tudo. Primeiro, essas pessoas estão a ter uma mente tão fechada como acusam os outros de ter, e em segundo lugar, são cépticos em relação à ciência, que enaltece o cepticismo: logo, são cépticos em relação ao cepticismo.

Ter uma mente aberta não significa acreditar facilmente no que nos contam. Aliás, isso nem sequer é uma virtude, e pode ser muito prejudicial. Exigir provas ajuda-nos a distinguir o que é verdade do que é mentira.

Ter um pensamento crítico não é incompatível com ter uma mente aberta. Ter uma mente aberta e pensamento crítico torna-nos mais capazes, pois mesmo que tenhamos ideias erradas sobre algo, se alguém nos provar que estamos errados, podemos mudar de opinião. Pelo contrário, se aceitarmos ideias sem pensamento crítico, e fecharmos a nossa mente à opinião dos outros, mesmo que seja grande a evidência de estarmos errados, mantemos-nos fieis às nossas ideias, e isso é ter uma mente fechada.

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